Vestida de mim mesma

Uma verdade: toda roupa comunica uma mensagem. Temos um armário cheio de coisas a serem ditas e, mesmo assim, não sabemos direito como nos expressar.

No passado, a moda ditava as tendências. Primeiro elas eram absorvidas pelas classes dominantes e depois pela grande massa, que copiava o estilo dos mais nobres, numa tentativa de se igualar através da imagem.

Depois isso mudou. E então a moda ficou um tanto fluida e democrática. Mais tarde, passou a valorizar a autonomia das pessoas para escolher o que vestir e, por consequência, a segmentação pela estética diminuiu. Não existe apenas um padrão de referência a ser seguido. Ainda que exista uma divisão entre luxo e moda popular, somos livres para escolher nossas roupas (acredite, já existiram leis que determinavam o que cada um podia vestir).

Quase um mundo ideal, não fosse pelo ritmo acelerado que a moda passou a cuspir tendências. Onde já se viu quatro, cinco, seis coleções por ano? Se a gente usa a moda para expressarmos quem somos, então, quem “eu sou” muda a cada estação do ano? Como construir um estilo? Será que tanta oferta ajuda mesmo na construção de uma identidade através da aparência? Com essa quantidade de referência para seguir e pessoas para se inspirar, será que sabemos se o que escolhemos foi por que realmente gostamos? Ou porque fomos influenciados?

Cresci em meio a revistas como Capricho, Toda Teen e Marie Claire que dividiam as mulheres em estilos estereotipados como “patricinhas”, “hippies”, “nerds”, “roqueiras”, “góticas”e “emos”.

Na adolescência e até jovem, percebi que eu não me encaixava em nenhum desses estilos. Por mais que eu sentisse necessidade de fazer parte de um grupo, eu gostava de tantas coisas desconexas que chamei isso de ser estranha. E assim ficou acordado, durante um bom tempo, entre mim e meu pequeno e tosco universo que ter estilo era coisa de quem tem turma, pra sair igual.

Agora imagine que louco se todo mundo se cansa de ser parecido e resolve se vestir de si mesmo? Imagine que afronta, a coragem de ser complexo e ambivalente?

Eu estou escrevendo sempre, no meu blog e no Instagram, reflexões sobre como a moda mudou e do quanto ela agora nos permite sermos mais reais, mas também sobre como sofremos para descobrir como nos expressar. Como é difícil separar o que “eu gosto” do que “eu sou”.

Passei uma vida tentando separar o “quem sou eu” da fantasia do “quem eu gostaria de ser”. Estudando, aprendendo, errando, copiando e desconstruindo pré-conceitos. E esse é o único caminho possível: achar seu estilo apesar desse mundo infestado de tendências e regras a serem seguidas. Ainda assim, ele muda. O estilo muda quando nós também mudamos. Se tem uma coisa que eu aprendi, depois de tudo o que vivi e estudei em moda, é que a gente só sente que encontrou um estilo quando damos valor à nossa intuição. Só assim conseguimos comunicar uma mensagem coerente. Aquela vozinha, sabe, te dizendo que você não precisa se encaixar em nada pra ser autêntica? Isso é o que eu chamo de estar vestida de mim mesma.

Se quiser aprender um pouco mais sobre estilo, deixe sua dúvida aqui!

Maraisa Marques é consultora de imagem, produtora de conteúdo e entusiasta da sustentabilidade na moda. Formada em Comunicação Social e atualmente se especializando em Semiótica. É autora do site Estilo com Alma, onde fala de imagem pessoal, consumo de moda consciente, beleza natural e autoconhecimento.

Conheça mais em: @estilocomalma | estilocomalma@gmail.com

Slow Beauty: um convite ao autocuidado

Babosa para nutrir os cabelos, chá de camomila para dar brilho, borra de café esfoliante e abacate para hidratar a pele. Certamente você ouviu falar sobre essas receitas e teve uma sensação nostálgica, pensando se tratar de “dicas de vó”. Mas é justamente esse resgate às tradições que o movimento slow beauty propõe: menos cosméticos industrializados e mais práticas de autocuidado.

Nos últimos anos, passamos a ter mais consciência dos produtos que consumimos e nos preocupamos mais em ter uma alimentação saudável e natural. Aprendemos a ler os rótulos no supermercado e a comprarmos alimentos orgânicos, menos processados e com teor reduzido de substâncias artificiais. E essa lógica se estendeu ao universo da beleza. Afinal, a pele é o maior órgão do nosso corpo, tudo que usamos nela pode chegar até a corrente sanguínea, e os cosméticos convencionais estão repletos de componentes tóxicos.

Na contramão desse movimento, a indústria da beleza se concentrou em oferecer produtos com performance química e tecnologia de ponta. Abusam da mensagem implícita de um ideal a ser alcançado, incentivando a busca das mulheres por uma beleza irreal, baseada em padrões estereotipados e inatingíveis.O slow beauty contraria essa tendência: propõe um novo olhar para os rituais de beleza. Mais abrangente, ele une beleza, alimentação e bem-estar.

A proposta é desacelerar. Livre dos excessos, ganha-se mais consciência do próprio corpo e até mesmo do processo natural de envelhecimento. Os rituais de beleza deixam de ser uma guerra contra os sinais do tempo e se transformam em uma celebração da qualidade de vida. Além disso, encoraja um pé no freio do consumo e uma maior preocupação com a procedência dos produtos, se apropriando do uso de matérias-primas da natureza.

O óleo de coco, por exemplo, pode ser usado de diversas maneiras, como pré-shampoo, hidratante corporal, demaquilante, reparador de pontas e até como enxaguante bucal. É possível nutrir a pele, os cabelos e as unhas com ingredientes que você tem na cozinha, frutas, ervas e óleos vegetais.

Não existe regra, nem um ritual de transição para o slow beauty. Há quem defenda (e eu tendo a concordar) que não adianta ser radical e excluir todos os cosméticos convencionais, pois tudo depende de ouvir o próprio corpo.

Acompanho o trabalho da Marcela Rodrigues, que é uma das mais conhecidas praticantes de slow beauty. Em seu blog ‘A Naturalíssima’, ela compartilha diversas receitas de cosméticos caseiros e rituais de beleza e diz: “a questão é que beleza natural é simples, mas a transição não é simplória, tampouco rápida. É muito mais do que fazer substituições e reproduzir receitas. Pede presença, calma, alma. Poético demais? E é. Mas também é um caminho de realismo com gentileza”. Essa tendência estimula cada vez mais mulheres a enxergarem o conceito de beleza com outros olhos. Muitas assumem seus cabelos cacheados, suas marcas do tempo e seu corpo “fora dos padrões”. Uma verdadeira libertação da cultura opressiva da beleza midiática, tão insistentemente disseminada. Devagar a gente entende que bonito mesmo é ser real.

Se quiser aprender um pouco mais sobre cosméticos naturais e orgânicos, deixe sua dúvida aqui!

Maraisa Marques é consultora de imagem, produtora de conteúdo e entusiasta da sustentabilidade na moda. Formada em Comunicação Social e atualmente se especializando em Semiótica. É autora do site Estilo com Alma, onde fala de imagem pessoal, consumo de moda consciente, beleza natural e autoconhecimento.

Conheça mais em: @estilocomalma | estilocomalma@gmail.com